Conto: Diego Fortes
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Controle de solo para Major Tom: seu circuito pifou, tem algo errado.
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Pode me ouvir, Major Tom?
-
Pode me ouvir, Major Tom?
-
Pode me ouvir, Major Tom?
-
Pode me ouv...
A comunicação foi
cortada.
Todos ficaram
extremamente apreensivos.
Sua esposa, a
Tenente-Coronel Jane Stevens, chegou a desmaiar.
O
que teria acontecido?
Major
Tom estaria vivo?
Teria
ele conseguido pousar no superfície escura da Lua?
Essas e outras perguntas
serão respondidas na sequência desta história sideral!!!
Após inúmeras
tentativas de comunicação durante semanas, a NASA declarou o Major Tom Stevens
como morto. Fizeram-lhe todas as homenagens: enterro (simbólico) militar, salva
de tiros, deram uma medalha para a família. A única a não se conformar era a Tenente-Coronel
Jane Stevens que logo começou uma campanha para enviar um robô de
reconhecimento nas proximidades de onde eles estimavam que havia caído a
espaçonave. Seria inútil, diziam - mesmo que o major tivesse sobrevivido a
queda, suas pílulas de proteína e o suprimento de oxigênio durariam no máximo
uns dois meses - já havia se passado um ano!
O mistério dominava
a cabeça da pobre tenente-coronel. Muitos ciclos lunares se passaram e Jane
contemplava o céu todas as noites. Ela insistia na missão robótica. Mexeu
alguns pauzinhos,cobrou alguns favores, adulterou alguns dados para levantar a
suspeita de que havia água em determinado ponto no lado escuro da Lua. Finalmente,
conseguiu o que queria! Após quase dez anos do acidente de seu marido, a sonda Curiosity foi mandada ao suposto local
da colisão.
Ao pousar, o
robozinho começou a transmitir para a Terra imagens de pedras, buracos, poeira
lunar. Explorou quilômetros até achar uma fenda gigantesca de onde era emitida
uma luz. Quanto mais se aproximava da fenda, mais ficava nítido o som de alguma
coisa. O robô avançou até focar no que parecia ser um pé. Mas um pé de criança.
O pescoço mecânico que sustenta a câmera se esticou e captou a imagem de um
menino. Uma forma de vida humanóide, porém muito pálida e de cabelo azul. O
menino corre para alguém e fala em inglês:
-
Daddy! Daddy!
De repente, entra no
quadro, ninguém mais, ninguém menos, que o Major Tom - e pega a criança no
colo! Olha para o robô da NASA assustado. Uma mulher linda, também muito pálida
e de cabelo azul, se aproxima dele e o abraça. Seios fartos, pernas atléticas,
ela olha curiosa para aquela máquina. Major Tom está desconcertado. Ele diz
para a mulher entrar em casa com a criança. A casa tem forma arredondada, fica
ao lado de outra e de outra e de outra. É uma cidade dentro da fenda lunar!
Formas arredondadas e brancas. O lugar todo parece ter sido projetado pelo
Niemeyer. Assim que fica sozinho, o major olha ao redor e fala com a câmera:
-
Hello? Hello, Jane,
é você que está aí?
A Tenente-Coronel
mal consegue falar.
-
Tom?
-
Hi, Jane, quanto
tempo...
-
Tom, o que que está
acontecendo? Quem é essa mulher?
-
Então... Acho que a
gente precisa ter uma conversa...
-
Conversa? Que
conversa? Eu passo dez anos te procurando e quando eu acho, eu descubro que
você tem outra família?
-
Look, Jane, você
sabia que o nosso casamento não seria fácil... Que eu viajava bastante
profissionalmente...
-
Pra Lua, Tom!
Viajava até a Lua e voltava! Era uma missão de reconhecimento, não de
colonização!
Major Tom desvia o
olhar.
-
Você está muito
nervosa, desse jeito não vai dar pra conversar. Tô tentando explicar e você não
me deixa falar...
-
Are you fucking
kidding me?!?
-
Eu consegui
sobreviver à colisão, mas pensei que iria morrer, até que eu achei essa fenda.
O pessoal daqui me ajudou, me integraram ao convívio social e foi aí que eu
conheci a Lucy.
-
Lucy?
-
É o nome da minha
esposa.
-
Eu sou sua esposa,
Tom!
-
Jane, você tem que
aceitar que a nossa relação acabou. A muito tempo que a gente tava em crise...
-
Crise?!?
-
My God, Jane, eu
tive que sair do planeta pra conseguir que você me desse algum espaço...
-
Motherfucker, como é
que você pôde fazer isso comigo?!? Tava tudo tão bem...
-
Não tava, não, Jane.
Foi esse o nosso problema. Você sempre com a cabeça no espaço sideral e não dá
atenção pra quem tá do seu lado.
-
Eu não posso
acreditar que você me trocou por essa... criatura!
-
Eu e Lucy temos
muita coisa em comum.
-
O que você pode ter
em comum com um E.T.?!?
-
Muito mais que eu e
você: você é católica, eu sou presbiteriano; você gosta de campo, eu prefiro a
praia; eu sou mais de sair, você sempre queria ficar em casa...
-
Ela é um alien!!!
-
Eu sinto muito que
você tenha descoberto as coisas desse jeito, mas eu não vou voltar. Adeus,
Jane.
“Climão” seria pouco
para descrever o que se passava na sala de comando. Um general não disse na
hora, mas pensou que toda aquela missão era bullshit,
uma perda de tempo desde o começo: a NASA havia patrocinado a “D.R” mais cara
da história.
Major Tom e a mulher
acabaram adotando o robozinho Curiosity
- fazia tempo que o menino pedia um bichinho de estimação.
Foca Cruz
Luiz Alberto Cruz, Foca, parnanguara, primeira lembrança na vida foi ver Neil Armstrong numa tv preto e branco andando feito um bobo na lua. Nessa época já existiam dinossauros e os carros de corrida na oficina do lado. O primeiro livro lido foi "Viagem à Lua" de Julio Verne. Ganhou do irmão pintor uma "Rotring" 0.3 aos 10 anos, daí em diante fodeu, pois logo ficou claro de fato que desenhar é como tocar violino em público: ou é muito bom ou da ânsia de vômito. Adam West. Também o do próprio: www.focacruz.wordpress.com
Diego Fortes
É ator, escritor, tradutor e diretor. Nasceu em 1982. Bacharel em Comunicação Social, tem passagens pela Escola Técnica de Formação de Atores da Universidade Federal do Paraná, pelo Ateliê de Criação Teatral e entre diversos outros. Fundou A Armadilha - cia. de teatro em 2001, companhia pela qual montou os espetáculos Marias (2004), Café Andaluz (2005), Os Leões (2006), Bolacha Maria - um punhado de neve que restou da tempestade (2008) e Jornal da Guerra Contra os Taedos (2009). Em 2010, escreveu e dirigiu - com a colaboração da artista mineira Grace Passô - a peça Os Invisíveis, pela qual recebeu a segunda indicação à Melhor Direção do Troféu Gralha Azul. Mantém contato colaborativo com autores de outros países latinos.
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